Darshan

Como eu poderia prever, que aos 35 anos e 33 dias, que uns tais Drávidas quase esquecidos, viventes aproximadamente 4509 anos antes de mim, pudessem me explicar exatamente a realidade do meu amor por ela?

Como eu poderia imaginar que a deidade que eu vejo, na mulher do meu desejo corporificado, é a mais divina realidade de ser, estar e existir? Que o ato de amar é nada menos que enxergá-la tal como ela é de verdade?

Talvez eu nem precisasse saber do que já intuía, que seu corpo é o meu templo, os seu olhos meu oráculo, sua boca a minha fonte, suas mãos o meu guia, suas pernas meu alicerce, o seu ventre meu altar, o seu prazer meu sacerdócio e o meu gozo uma oferenda. Sempre busquei um motivo palpável para minha eterna comoção, para minha sempre espera, para toda minha calma, para este contentamento, para as lágrimas incontidas, para a vontade sem limites, para o encolhimento do ego, para a sensibilidade exacerbada, para a razão só aumentar a emoção.

Esteve tudo sempre ali não diante do meu nariz, mas bem dentro da minha alma. Desde o meu primeiro olhar, desde o seu primeiro gesto, desde o meu primeiro encanto diante da sua fala. Era só viver, viver, viver e esperar o universo todo se movimentar, com o único e exclusivo intuito de me por diante do seu divino olhar.

Então o cosmo conspirou e disfarçado de acaso, utilizou suas artimanhas: armou encontros improváveis, plantou lembranças inesquecíveis, nos lançou no meio do mundo, nos fez aprender o sofrer e o prazer. Quando tudo parecia mais que esquecido, usou seu golpe de mestre: tornou-se gente, alinhavou os opostos. E no instante sagrado da profecia se cumprir, eu vi o que sempre vi e ela viu o que nunca viu, olhei para a deusa de sempre e ela deu à luz um deus.

[Darshan = visão de um ser sagrado]
[A imagem é da união entre Shiva e Shaktí]

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