Fuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu...


Não mais que 30 míseros centímetros entre minha boca vermelha, cheia de dentes, e aquele pescoço branco, límpido, banhado de sol amarelo, emoldurado por uns cabelos negros como essa noite nua de estrelas. Seus ombros de escultura estavam bem ali, ao alcance do meu queixo limpo à navalha, agora já áspero. Seu colo quase podia ser tocado pela ponta úmida da minha língua, quase podia sentir seu gosto por baixo do pingente. Levantei meus olhos e novamente me perdi na profundidade apaixonada das suas duas gemas castanho-escuras, vivas, brilhantes, encimadas por sobrancelhas perfeitamente talhadas. As minhas próprias jóias, agora já não mais de minha propriedade, esboçaram um inevitável olhar canino, característico daqueles animaizinhos perdidos, que caíram na mudança e sentem saudades do lugar mais seguro do mundo: o calor do entre suas pernas, sob as cobertas. E isso lhe roubou um riso, que de tão comovente me fez retribuir com o meu sorriso mais bem guardado. Então, meu rosto pendeu à direita, já sem fala, como se pesasse mil toneladas, e minha mão destra avançou os míseros centímetros até o quase tocar seu rosto através da vidraça. Do seu lado era o sol te aquecendo pele, do meu era você me aquecendo por dentro, numa noite chuvosa igualzinha a esta. Todos os dias eu venho à janela, mesmo quando você não está, com um desejo, ao mesmo tempo másculo e infantil, de pegar uma pedra, colocá-la no estilingue e fazê-la em pedaços, para depois atravessá-la mesmo me ferindo nos cacos. Porque sei que aí do teu lado, você me passará merthiolate, soprará minha dor para bem longe e me dirá: shiiiiiiiiu, já passou meu amor, já passou...

1 comentários:

Carmen, 27 de julho de 2009 às 07:35  

'shiiiiiiiiu, já passou meu amor, já passou..'
é tudo q a gente quer ouvir em tantos certos dias :)

Lindo demais. Beijo.

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